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sábado, 16 de abril de 2011

As categorias de Darwin

Não é objetivo desse livro discutir a natureza do discurso científico, mas procurar demonstrar, pela análise da linguagem utilizada na obra de darwin A Origem das Espécies, que as relações existentes entre as características dos seres vivos e as exigências do ambiente onde vivem são inteligentes, lógicas e úteis, e por isso mesmo denunciam uma racionalidade existente na natureza. Para a consecução desse objetivo, partiremos de algumas considerações sobre a metáfora. Primeiramente postularemos e procuraremos provar que toda e qualquer metáfora é, antes de tudo, um processo de categorização. Ou seja, uma metáfora, na verdade, cria uma nova categoria na e pela linguagem. Isso quer dizer que, quando usamos uma metáfora, é uma categora linguística nova que estamos criando. Em segundo lugar, procederemos à análise da linguagem usada por Darwin em sua obra, procurando explicitar a racionalidade presente em cada evento descrito. É a partir dessa racionalidade presente que defendemos um planejamento inteligente ao qual as características dos seres vivos estão atreladas. Dessa forma, tentaremos mostrar, neste trabalho, que é inegável a presença de uma razão diretora na natureza, única explicação possível para as relações existentes entre as características dos seres vivos e seu ambiente de vida.
Darwin postula em sua obra que as formas de vida como as conhecemos são produto de um processo evolutivo na NATUREZA, existente a partir de variações, grandes ou pequenas, que surgem nos organismos vivos. Para ele, essas variações, se se mostrarem úteis para o organismo, são preservadas nesse processo, garantindo ao ser a adaptação a um determinado ambiente. Contudo, pela análise de sua linguagem, vemos que Darwin toma como responsável por esse processo uma força á qual ele chama de SELEÇÃO NATURAL.
Darwin denomina esse processo de SELEÇÃO NATURAL em oposição a um outro processo de seleção, o realizado pelo homem, ao qual ele chama de seleção artificial. Contudo, procuraremos demonstrar que não há possibilidade de existir um processo seletivo na natureza por uma boa razão: porque as relações lógicas, úteis e necessárias entre as características dos seres vivos e o ambiente em que vivem, pela sua própria natureza, necessariamente carecem de inteligência,não podem ser produto do acaso, pois guardam em si sempre um objetivo. Essa inteligência, que, como veremos, está implícita na linguagem de Darwin, não pode existir na natureza.
Não daremos aqui nenhuma definição precisa de metáfora, simplesmente porque não defendemos aqui nenhuma teoria da metáfora, mas abordamos a metáfora superficialmente porque, como já dissemos e constataremos mais adiante, ela é um processo de categorização, e é isso que importa para os objetivos desse livro. Uma vez que Darwin se vale de tal processo de categorização para criar categorias e, através delas, racionalizar sobre os fatos da natureza, procuraremos demonstrar que pela metáfora podem-se criar categorias linguísticas e com elas operar em qualquer tipo de discurso , até mesmo no científico. Procuraremos demonstrar até que, sem a metáfora, seria impossível se referir às características dos seres vivos na natureza sem admitir essa inteligência sobre a qual, conforme estamos postulando, descansa toda explicação sobre as relações entre as características dos seres vivos e seus ambientes.
No capítulo um, tratamos da metáfora, de como ela se dá, sem, contudo, preocuparmo-nos com uma definiçao do termo. Procuramos demonstrar como é possível criar uma categoria linguística através do processo de metaforização. No capítulo dois, abordamos dois aspectos do conceito SELEÇÃO NATURAL. Primeiro, procuramos demonstrar a verdadeira natureza do conceito e sua impossilidade extralinguística. Depois, abordamos as capacidades que Darwin atribui à SELEÇÃO NATURAL, postulando também sua impossibilidade fora do discurso. No capítulo terceiro, tratamos do conceito de NATUREZA utilizado por Darwin e, como no conceito de SELEÇÃO NATURAL, chamamos a atenção para sua verdadeira natureza, qual seja, a de entidade inteligente puramente linguística, sem qualquer possibilidade fora do discurso, diferenciando-se, por isso mesmo, do conceito de natureza conhecido pelo senso comum. O capítulo quarto é dedicado a outro conceito darwiniano, o de SELEÇÃ SEXUAL, que se revela também como uma categoria inteligente, responsável por vários fatos na natureza. Pela sua própria natureza, demonstramos também que tal conceito não existe fora do discurso. No capítulo cinco, mostramos como Darwin se refere a INSETOS, ANIMAIS, PLANTAS como se fossem os insetos, animais e plantas conhecidos por nós. Todavia, uma análise de sua linguagem revela a impossibilidade de que os INSETOS, ANIMAIS e PLANTAS a que se refere também tenham existência fora do discurso. A construção metafórica de tais conceitos vem corroborar o que afirmamos ao longo de todo o livro: a necessária assumpção de uma inteligência na natureza. O capítulo seis é dedicado à análise de certas constâncias observadas na natureza, às quais Darwin chama de LEIS, TENDÊNCIAS, PRINCÍPIOS. Tais constâncias revelam uma inteligência na natureza, o que, como já dissemos, é também admitido por Darwin. No sétimo capítulo, tendo postulado até então que os fatos da natureza demandam, necessariamente, inteligência, observamos mais constâncias, mais indícios dessa inteligência necessária. No capítulo oitavo, tecemos algumas observações sobre o pensamento darwiniano e, por fim, no capítulo nono, terminamos, com algumas observações finais.
A obra que usamos é A Origem das Espécies, da Editora Itatiaia, Belo Horizonte, 4ª edição, 2002, traduzida por Eugênio Amado, e algumas poucas vezes nos valeremos também de citações extraídas da edição inglesa The Origin of Species by Means of Natural Selection (1955),com o objetivo de mostrar como, através da linguagem, mais especificamente da metáfora, Darwin concebe categorias com as quais procura racionalizar sobre os fatos da natureza. Durante as análises de trechos extraídos da sua obra, procuramos mostrar como existe na natureza uma razão/inteligência norteadora das relações entre as características dos seres vivos e o ambiente onde vivem.

domingo, 17 de outubro de 2010

Livro A Linguagem de Darwin

Nosso objetivo no livro não é somente uma análise da linguagem em Darwin, observando como ele se vale do processamento metafórico para dar vida à SELEÇÃO NATURAL e para criar categorias inteligentes. Queremos demonstrar que todas as ações e capacidades descritas por Darwin em sua obra A Origem das Espécies, e atribuídas, ora à SELEÇÃO NATURAL, ora à própria NATUREZA, são ações e capacidades somente imputáveis a seres inteligentes. Também demonstraremos que os seres aos quais Darwin remete em sua obra, a saber, NATUREZA, INSETOS, PLANTAS e ANIMAIS são somente categorias linguísticas, criadas no e pelo discurso, não são na verdade os mesmos seres que conhecemos no dia-a-dia. Observaremos a recorrência de ações necessárias à adaptação e sobrevivência das espécies, ações atribuídas à SELEÇÃO NATURAL, sem as quais os organismos vivos não conseguiriam sobreviver em seus ambientes e chamaremos a atenção, em cada análise, para o fato de que a ação descrita ou as capacidades observadas não poderiam ser atribuídas a um ser que não fosse inteligente. Com isso queremos postular a necessidade sempre presente de um planejamento inteligente por trás de todas as ações descritas por Darwin. Demonstraremos também que a admissão da necessidade de uma inteligência por trás dos fatos da natureza foi o que levou Darwin, através do processamento metafórico, a criar categorias linguísticas, às quais ele imputa a inteligência que admite.
Como já afirmamos, a NATUREZA em Darwin não é a mesma natureza como nós a conhecemos e à qual nos referimos constantemente. A NATUREZA em Darwin é uma categoria linguisticamente criada, bem como são categorias linguisticamente criadas as PLANTAS, os ANIMAIS e a própria SELEÇÃO NATURAL. Essas categorias são criadas a partir do processamento metafórico, que envolve sempre um mínimo de dois conceitos-base, sendo o conceito de SER INTELIGENTE o conceito recorrente e necessário à criação dessas novas categorias de Darwin.
Darwin atribuirá unicamente à SELEÇÃO NATURAL, à NATUREZA, às PLANTAS e aos ANIMAIS as ações que descreverá e, consequentemente, a responsabilidade pelas características dos organismos vivos. O leitor observará que, por trás de cada ação e característica, haverá sempre uma capacidade que tem, como condição sine qua non para sua existência, a inteligência.


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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Uma inteligência é necessária

Em sua obra A Origem das Espécies, Darwin nos dá uma descrição da natureza conforme ele a concebe. Nessas descrições, ele nos provê de explicações sobre como e até mesmo sobre por que os seres vivos são como são. Contudo, uma análise detalhada do que ele diz nos revela que é necessária uma inteligência para que aconteça o que ele afirma acontecer. Vejamos um trecho:



“Ora, a SELEÇÃO NATURAL não pode agir senão quando ocorrem variações proveitosas” (DARWIN:2002, p. 95)


A SELEÇÃO NATURAL é uma categoria inteligente que age sempre para o bem dos organismos. É o que está escrito nos trechos acima. Afirmamos que ela é inteligente porque é capaz de identificar variações nos organismos, é inteligente porque é capaz de emitir um juízo de valor sobre essas modificações. Isso ela faz quando tais variações são preservadas por serem “proveitosas”. A condição para que uma variação seja preservada é que ela seja proveitosa. Visto que nenhum ser vivo possui inteligência e poder suficientes para preservarem supostas variações nele ocorridas porque as julga como “proveitosas”, é necessária a atuação de um outro ser que faça isso, ou seja, um ser inteligente, capaz de detectar variações e de julgá-las como proveitosas. Ora, “proveitoso” somente se dá por uma relação lógica e útil entre a variação e o ambiente do ser vivo.

Barbatanas, por exemplo, são “proveitosas” aos peixes se forem julgadas com relação ao ambiente em que o peixe vive. Uma barbatana não seria proveitosa no lugar de uma asa, por exemplo. Dessa forma, se uma variação é preservada porque é proveitosa, é porque esta variação foi posta em relação lógica e útil com o ambiente do ser vivo. Visto que o próprio ser vivo não poderia executar essa ação, qual seja, a de detectar e julgar uma variação que porventura tenha sofrido e de contrapô-la ao ambiente em que vive, Darwin providencia um ser que pode fazer isso, ou seja, uma entidade que detecta variações nos seres vivos, que estabelece entre essa suposta variação o ambiente onde o organismo vive relações e, a partir daí, julga essa variação como útil (barbatanas são úteis para peixes, asas são úteis para aves) ou proveitosa. Em vez de admitir uma inteligência exterior à natureza, Darwin providencia uma categoria capaz de tomar o lugar dessa inteligência. Essa categoria se dá pela metáfora.

Tudo é possível na e pela linguagem

A linguagem é um fantástico recurso de que dispomos. Através da linguagem, o homem constrói desde uma pontes até poderosas armas de guerra. Por linguagem aqui não estamos querendo dizer somente o que está escrito em palavras, mas todo e qualquer signo que diga algo, que transmita uma mensagem. Dessa forma, um romance é linguagem, e um projeto arquitetônico também o é.

Ora, se através da linguagem somos capazes de construir espaçonaves e computadores, também através dela podemos criar mundos fantásticos, como acontece com os filmes e histórias em quadrinhos. Simplesmente na linguagem não há coisa alguma que seja impossível. Posso dizer, por exemplo, que Maria é uma flor, sem que isso cause mal-estar, sem que tal enunciado seja rejeitado como mentira, ainda que ele não corresponda, de forma alguma a um fato no mundo. Essa peculiaridade da linguagem, qual seja, de nos permitir referir a um fato sem, contudo, comprometer-se com a total verdade dele, é de grande valia até mesmo quando da elaboração de teorias científicas.

Alguém que conheço se chama Maria, e ela não é, definitivamente, uma flor. Ela é uma flor somente em um sentido, que chamamos metafórico. No sentido literal, de verdade, Maria é uma coisa e flor é outra. Não é possível que Maria seja outra coisa que não ela mesma. Em um sentido ela é uma flor, mas em outro, não.

Assim, pela linguagem, que nos permite tantas coisas, diz-se que temos enunciados literais e enunciados metafóricos. Bem, enunciados são literais somente em um sentido muito parcial, pois, como vimos, um enunciado não pode de forma alguma corresponder a um fato em sua totalidade. Queremos que o leitor mantenha isso tudo que falamos em mente: que o sentido literal nos permite remeter a um fato no mundo, mas o sentido não-literal, não.

Podemos tudo pela linguagem. Interessante é que esse poder tudo sempre foi sentido pelas pessoas, até mesmo pelas mais comuns. Quem de nós nunca ouviu alguém dizer que papel aceita tudo? Normalmente quando dizemos isso, estamos expressando uma forma de duvidar de alguma coisa que está escrita. De fato, em um papel posso escrever qualquer coisa, quem me provará que ela é falsa ou verdadeira?

Enunciados metafóricos, como "Maria é uma flor" são prova disso. Maria não é uma flor, contudo, dizer que ela é não nos parece absurdo, não nos provoca espanto. Exatamente porque, pela linguagem, eu posso dizer qualquer coisa, e qualquer coisa que, ainda que seja racionalmente absurda, pode transmitir alguma mensagem.

A teoria de Darwin, a da evolução das espécies, é um exemplo de como a linguagem pode ser usada em ciência para criar mundos fantásticos, para nos fornecer explicações que, ainda que sejam absurdas, permitem que as aceitemos. Meu livro trata justamente disso, da impossibilidade do que Darwin afirma.