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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Tudo é possível na e pela linguagem

A linguagem é um fantástico recurso de que dispomos. Através da linguagem, o homem constrói desde uma pontes até poderosas armas de guerra. Por linguagem aqui não estamos querendo dizer somente o que está escrito em palavras, mas todo e qualquer signo que diga algo, que transmita uma mensagem. Dessa forma, um romance é linguagem, e um projeto arquitetônico também o é.

Ora, se através da linguagem somos capazes de construir espaçonaves e computadores, também através dela podemos criar mundos fantásticos, como acontece com os filmes e histórias em quadrinhos. Simplesmente na linguagem não há coisa alguma que seja impossível. Posso dizer, por exemplo, que Maria é uma flor, sem que isso cause mal-estar, sem que tal enunciado seja rejeitado como mentira, ainda que ele não corresponda, de forma alguma a um fato no mundo. Essa peculiaridade da linguagem, qual seja, de nos permitir referir a um fato sem, contudo, comprometer-se com a total verdade dele, é de grande valia até mesmo quando da elaboração de teorias científicas.

Alguém que conheço se chama Maria, e ela não é, definitivamente, uma flor. Ela é uma flor somente em um sentido, que chamamos metafórico. No sentido literal, de verdade, Maria é uma coisa e flor é outra. Não é possível que Maria seja outra coisa que não ela mesma. Em um sentido ela é uma flor, mas em outro, não.

Assim, pela linguagem, que nos permite tantas coisas, diz-se que temos enunciados literais e enunciados metafóricos. Bem, enunciados são literais somente em um sentido muito parcial, pois, como vimos, um enunciado não pode de forma alguma corresponder a um fato em sua totalidade. Queremos que o leitor mantenha isso tudo que falamos em mente: que o sentido literal nos permite remeter a um fato no mundo, mas o sentido não-literal, não.

Podemos tudo pela linguagem. Interessante é que esse poder tudo sempre foi sentido pelas pessoas, até mesmo pelas mais comuns. Quem de nós nunca ouviu alguém dizer que papel aceita tudo? Normalmente quando dizemos isso, estamos expressando uma forma de duvidar de alguma coisa que está escrita. De fato, em um papel posso escrever qualquer coisa, quem me provará que ela é falsa ou verdadeira?

Enunciados metafóricos, como "Maria é uma flor" são prova disso. Maria não é uma flor, contudo, dizer que ela é não nos parece absurdo, não nos provoca espanto. Exatamente porque, pela linguagem, eu posso dizer qualquer coisa, e qualquer coisa que, ainda que seja racionalmente absurda, pode transmitir alguma mensagem.

A teoria de Darwin, a da evolução das espécies, é um exemplo de como a linguagem pode ser usada em ciência para criar mundos fantásticos, para nos fornecer explicações que, ainda que sejam absurdas, permitem que as aceitemos. Meu livro trata justamente disso, da impossibilidade do que Darwin afirma.

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